Claramente uma improbabilidade geopolítica nascida há quase 900 anos, Portugal é um dos Estados Nação mais antigos da Europa, e concedo que não padece de uma crise identitária ou careça de especial esforço de afirmação patriótica. Talvez o facto de sermos esse “dado adquirido” explique porque razão tratamos tão mal os nossos símbolos e a nossa História, a qual quase ninguém conhece, assim como os seus heróis, principalmente se não se distinguiram a jogar à bola e por azar morreram antes de haver televisão. Assim, como uns parolos de geração espontânea, autorizamo-nos a refazer a cada momento os nossos símbolos, de que a república de 1910 encarregou-se impiedosamente decapitar os principais, para simular uma revolucionária fraude a que chamaram “refundação”. Aqui chegados, importa que não desistamos de fazer do Dia de Portugal um sobressalto sobre aquilo que somos, de onde viemos, e principalmente o que, como comunidade, ambicionamos para os nossos netos.
A razão por que um monárquico não poderá ficar indiferente à invasão desregulada de migrantes no espaço europeu é porque a coroa será a primeira instituição a ressentir-se duma fragilização do tecido social das velhas nações, como comunidades de história e língua.
Foi isso que me chamou a atenção na esplêndida série “The Crown” da Netflix que relata a história do reinado de Isabel II, com a exibição de imagens do início da década de 50, das viagens da Família Real para passar o Natal em Sandringham, em que se vê o povo a acorrer em massa às plataformas das estações para acenar à passagem do comboio real. Este entusiamo, que emana da pátria profunda, só é possível por uma sólida identificação da população com os seus monarcas, na cumplicidade dos acontecimentos partilhados desde os confins da História.
De facto, as nações europeias vivem em cima de uma bomba relógio com o prenúncio de uma crise demográfica que só vem sendo mitigada através do escancaramento das fronteiras, uma estratégia que deve pouco ao altruísmo, mas antes à cegueira economicista da burocracia que nos governa. Assim, sem tempo para a aculturação das novas populações que à Europa afluem com costumes e línguas muito diferentes, as redes comunitárias vêem-se ameaçadas, relativizando-se o chão comum, promovendo-se a desconfiança e acicatando-se veleidades nacionalistas.
Ironicamente, Portugal, histórico palco de cruzamento de povos e culturas diferentes, onde sempre prevaleceu uma assinalável capacidade de assimilação, se não escapa à crise demográfica, vai estando imune à invasão massiva de migrantes que aflige outros países europeus. Mas não evita a agressividade da massificação cultural deste mundo globalizado, razão que deve motivar os monárquicos portugueses a concentrar esforços na defesa da nossa língua, património cultural e histórico. Porque só uma casa com identidade e carisma próprios está capacitada para bem receber novos hóspedes e visitantes. E se é verdade que temos de nos preparar com inteligência para essa luta pela afirmação identitária, em bom rigor temos razões para nos orgulharmos do Senhor Dom Duarte e da Família Real, que se vêm afirmando resolutos defensores dos mais perenes valores da portugalidade. Aqui, no extremo ocidental da Europa, e nos quatro cantos do Mundo.
A Real Associação de Lisboa é uma estrutura regional integrante da Causa Real, o movimento monárquico de âmbito nacional. Esta é uma associação que visa a divulgação, promoção e defesa da monarquia e da Instituição Real corporizada na Coroa Portuguesa, cujos direitos dinásticos estão na pessoa do Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança e em quem legitimamente lhe vier a suceder. Cabe a esta associação a prossecução de iniciativas e de projectos de interesse cultural, social, assistencial e de solidariedade que visem a dignificação, a valorização e o desenvolvimento dos seus associados e da comunidade em que se insere.