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BLOGUE REAL ASSOCIAÇÃO DE LISBOA

Elogio dum amigo

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Por volta de 1980, quando conheci João Távora, ambos amigos e colegas de liceu de diferentes filhos de Helena e Alberto Vaz da Silva, eu estava longe de imaginar — e ele certamente também — que um dia nos haveríamos de sentar a esta mesa para este momento tão especial de homenagem e lançamento duma antologia de uma das figuras mais nobres da vida política e parlamentar portuguesa daquele tempo, Henrique Barrilaro Ruas, que, com as suas longas barbas brancas, grossos óculos de massa e apenas algumas résteas de cabelo acima da testa, surgia certamente aos olhos dos jovens que então éramos como arauto duma ideia de Portugal, muito antiga sem dúvida mas cheia de dignidade e afinal de contas de uma sensatez iluminada e luminosa: a ideia de monarquia popular.

Sorte a nossa, que nos voltámos a encontrar regularmente desde 2008, quando um grupo heterogéneo decidiu contrariar, na blogosfera, as milionárias comemorações do centenário de um desastre e a glorificação dum duplo homicídio, então levada às escolas do ensino primário sob a forma arrepiante de uma canção de louvor a assassinos. Esse movimento dinâmico ajudou a impulsionar a Real Associação de Lisboa, onde, com Mattos Silva e Nuno Pombo, entre outros, João Távora iniciou e desenvolve ainda um trabalho de grande projecção e generosidade, sem o qual este livro A Liberdade Portuguesa não existiria.

Devemos-lhe muito, de facto. A colecção de livros Razões Reais, com três títulos lançados e um na calha, juntou-se em 2017 à publicação semestral do boletim Correio Real, actualmente com 19 números impressos, e desde 2017 órgão informativo extensivo a todas as associações regionais que formam a Causa Real. Quem sabe se estamos a caminho dum novo «dia inicial, luminoso e limpo» do verso de Sophia de Mello Breyner, neta do grande conde de Mafra, monárquica do Centro Nacional de Cultura, onde estamos, embora tal convicção não agrade aos seus comentadores habituais e a omitam sempre.

Se aqui faço o elogio de João Távora é também porque me sinto honrado por ele me ter permitido ser seu leal ajudante-de-campo — um pouco mais velho, é certo, embora não pareça — nessa batalha árdua e decisiva de prosseguir o trabalho de verdadeiros Gigantes como Henrique Barrilaro Ruas e Gonçalo Ribeiro Telles. Esta é apenas, e só, a retribuição humilde ao quão inspiradores eles foram para nós, como parte da geração de portugueses que cresceu com a revolução de 1974, como o prefácio de Nuno Miguel Guedes regista de forma inspirada.

Ora, o que este livro nos traz de volta, pela primeira vez, é tudo aquilo que desconhecíamos — ou conhecíamos menos bem — de anterior a esse marco histórico fundador, e do longo esforço desenvolvido durante décadas, em jornais como Debate. Semanário de crítica e actualidade ou em pequenas editoras como Gama, Aster e Biblioteca do Pensamento Político, para manter vivas a restauração monárquica e a defesa de um regime político original que a expressão agora em título — A Liberdade Portuguesa — exprime à perfeição.

Barrilaro Ruas teve incansável actividade nesses dois campos editoriais, o da imprensa e o dos livros, tendo impresso em 1971 uma escolha dos seus escritos a que chamou A Liberdade e o Rei. Estava-se num período charneira da vida portuguesa, em que grupos e personalidades monárquicos tiveram intervenção oposicionista relevante, ainda que o que prevaleceu depois, por influência esconsa, fosse uma imagem tradicionalista e comprometida que era aquela que mais convinha, afinal, a quem preferiu chamar a si todo o exclusivo da resistência política e da intervenção democrática. A Liberdade e o Rei nunca foi reeditado, o que a acontecer teria de acrescentar quanto o autor escreveu para jornais democráticos no pós- Novembro de 1975 — e juntar essas duas partes foi de certa forma o que preferimos agora fazer neste livro, com todas as limitações de pesquisa e de produção editorial que a Nota de abertura esclarece, e devemos compreender e aceitar.

Em 2010, depois de semanas de pesquisas, inclusive junto do espólio conservado na Biblioteca Nacional e organizado pela historiadora Maria Teresa Mónica, e conversas com o editor Manuel Vieira da Cruz, apresentei a um conhecido grupo editorial sediado em São Sebastião da Pedreira um projecto de edição da obra completa de Henrique Barrilaro Ruas, que além dos seus escritos históricos e literários, como grande especialista de Luiz de Camões, reunisse os seus escritos monárquicos. Era a forma de assinalar condignamente, em Março de  2011, os 90 anos do seu nascimento, com quatro volumes calculados em c. 400 páginas cada, e a seguinte ordenação: I, Deus; II, Rei; III, Portugal; IV, Camões — mas tudo não foi além de uma conversa cúmplice e gentilíssima com o meu doravante amigo Vasco Silva, o leitor habitual da cadeira G8 da Biblioteca Nacional.

Que hoje, noutra circunstância mas com idêntica finalidade — a de honrar Henrique Barrilaro Ruas — este livro, A Liberdade Portuguesa, possa ser lançado pela esforçada Real Associação de Lisboa e no Centro Nacional de Cultura que ele ajudou a fundar e dirigiu, demonstra que apesar das contrariedades conseguimos levar adiante os nossos projectos e que uma «nova» geração de monárquicos — portugueses de serviço — parece afirmar-se preparada para levar avante o desígnio lúcido que recebeu de quem tão brilhantemente a precedeu. O caminho faz-se caminhando e nós aqui estamos, para o que der e viver.

Viva Portugal! Viva o Rei!

Muito obrigado, João!

Vasco Rosa*

*Discurso de apresentação do livro "Liberdade Portuguesa" de Henrique Barrilaro Ruas no Centro Nacional de Cultura em Lisboa, a 17 de Outubro de 2019

 

A Real Associação de Lisboa é uma estrutura regional integrante da Causa Real, o movimento monárquico de âmbito nacional. Esta é uma associação que visa a divulgação, promoção e defesa da monarquia e da Instituição Real corporizada na Coroa Portuguesa, cujos direitos dinásticos estão na pessoa do Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança e em quem legitimamente lhe vier a suceder. Cabe a esta associação a prossecução de iniciativas e de projectos de interesse cultural, social, assistencial e de solidariedade que visem a dignificação, a valorização e o desenvolvimento dos seus associados e da comunidade em que se insere.

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