"Isto é muito mau para a República"
Porque este é um assunto que desenvolvendo-se durante a campanha eleitoral para a Assembleia da República e, por sua causa, ultrapassa o acto eleitoral, permito-me comentá-lo.
O caso das alegadas escutas à Presidência da República, não se sabe por quem nem a mando de quem, a eventual denúncia feita encapotadamente através de um jornal por um assessor do Chefe do Estado, o silêncio inadmissível tanto do Chefe do Estado - que se escuda no tempo eleitoral - como do Chefe do Governo - que se esconde atrás de um pretenso respeito institucional -, as devassas feitas por um jornal a correspondência electrónica dentro de outro jornal, as acusações de um jornal de que o outro jornal tem uma agenda política para prejudicar o partido do governo, estando implicitamente a demonstrar que tem uma agenda política para o defender, tudo isto seria apenas lamentável se não fosse grave.
Sem papas na língua, para o bem e para o mal, como é seu costume, o bastonário da Ordem dos Advogados e insuspeito republicano Dr. Marinho e Pinto, declarou "«Isto é muito mau para o Estado português, é muito mau para a imagem do Estado português e é muito mau para a imagem das instituições da República. É muito mau para a República».
É mau para a República claramente. Mas é um produto da república. Quando o Chefe do Estado é parte da luta política, quando o Chefe do Estado está refém de uma ideologia e provém das forças partidárias que se degladiam e a elas deve a sua eleição, embora teóricamente esteja acima delas somente por força dos preceitos constitucionais,quando o partido do Governo está ideológica e partidariamente em dissonância com o Chefe do Estado e não concorda com a sua actuação que considera prejudicar as suas políticas, que se esperaria?
Não são os monárquicos a dizer o que é por demais evidente. É um republicano ilustre: dá «uma sensação de que o Estado se está a dissolver».