Cinco Quinas de Reflexões Monárquicas
I - Restaurar a Monarquia em Portugal não salvará o país da famosa crise, mas evitará maiores estragos. Mas o que causa maior estrago é, sem a terapia e a pedagogia adequadas, inevitável: a inveja. Por acaso (!?) é com esta palavra (enveja) que o grande Camões encerra o seu poema épico. Com esta palavra e com esta ideia e, talvez, antevendo heróica desilusão.
Fomos bons no mar, assim como éramos bons pescadores, o que já não somos tanto (ou pelo menos já não são tantos os pescadores), pela inveja de uns e pela traição de alguns autóctones. Pois é: à inveja devemos acrescentar a traição, de que já Viriato não teve tempo para se queixar pois foi, à traição, assassinado. Já vem de longe esse mau exemplo que, alimentado pelo egoísmo e pela ganância de uns, torna uns quantos outros em assassinos!
A inveja ora pica, como a melga, ora morde, como um cão raivoso, tudo dependendo do grau da impunidade esperado pelo autor da ferroada. Os “meninos” dos partidos (sem ideologia, hoje um expediente para arranjar emprego) são os piores, e sobretudo aqueles que não conheceram a universidade da vida, mas apenas a do próprio partido. (E que saudades dos tempos em que os partidos tinham ideologias: ao menos sabíamos com quem estávamos a falar).
II - Acima dos partidos, para além dos jogos de poder, para além das justiças (normalmente injustiças) e outras negociatas resolvidas à mesa de restaurantes chiques, está o REI.
O REI DOS PORTUGUESES, que é muito mais do que um mero Chefe de Estado, ou chefe do funcionalismo público, “coisa” que pode estar, teoricamente, ao alcance da maioria dos Portugueses, como prevê a Constituição. (Mas o que a mesma já não prevê, e acrescento eu, é que o supradito “chefe” deverá primeiro entender-se com os Irrrmãozinhos -- para rimar com “três pontinhos”).
III - Alguns jornalistas ironizam com o REI, troçam da semente da nossa força e da herança histórica de um Povo que sempre quis ser independente, e assim ajudam a destruir a provavelmente mais antiga Nação-Estado da Europa, e reduzem a “Nação Valente” (do hino que só cantam quando há futebol), à causa libertária, por enquanto mascarada de liberalismo, para finalizar a obra de escravidão a “senhores” sem rosto, feios por dentro, plastificados por fora, que “gozam” dos rendimentos das suas (más) acções ao sol do sul da França -- ou da Florida.
Desrespeitam o REI, que não fazem por merecer, e deixam-se, alegremente, escravizar atrás de sugestões enganadoras, como eram as cenouras que se penduravam à frente dos burros para os motivar a andar! São da mesma índole dos que esquecem a nossa unidade antiga como Povo, outrora congregado por uma Alma que nos alimentou a vontade comum, que nos fez valentes, mais do que na conquista de um Império, na Reconquista desse mesmo Império, depois de 1640, contra os canhões dos Espanhóis, dos Holandeses e dos Franceses. Como alguém disse: “quando os Portugueses tinham tomates”! Não defendo aqui o Império. Existiu, fez-se e desfez-se, é já História! Mas lembro e realço a coragem e a valentia de tantos dos nossos antepassados, e outros ainda, felizmente ainda vivos: os Soldados do Ultramar, da nossa geração. Já nem parecemos a mesma gente!
IV - O Senhor Dom Duarte (para a luta deixemos no salão o tratamento de Alteza Real), o Senhor Dom Duarte, tem hoje passaporte Timorense. Honra a este Povo que, nas vicissitudes e nas curvas da História, e porque a vida é caminho, e o caminho é aprendizagem, mudança e aperfeiçoamento, deu o exemplo reconhecendo quem sempre o defendeu quando outros o traíram, ou se faziam convenientemente distraídos, assobiando para o lado. Porque Timor, terra de guerreiros e seus liurais, também é herança de Portugal no mundo.
V – Aos que ironizam, que saibam que quando o Senhor Dom Duarte dirige a palavra a outro Português não se dirige a um “súbdito” ou criado, mas sim a um de nós, que o respeita como a um companheiro de luta pela restauração dos valores nacionais, ao mesmo tempo Chefe e símbolo vivo dessa mesma luta. E, como dizem os antigos, o respeito é muito bonito, além de ser educativo, pois é sabido da experiência da vida, que aquele que não respeita também não mostra ter respeito por si próprio. Como pode pretender dar lições de vida? E é mais fácil a qualquer Português, como a qualquer Timorense, Angolano, Cabo-Verdiano, Brasileiro, Guineense, Indiano, São Tomense, Moçambicano, falar com o REI de Portugal, símbolo vivo da Cultura Lusófona e da herança agregadora que Portugal, como missão, deu ao mundo, do que qualquer “cidadão” falar com o secretário do secretário de um qualquer ministro. E assim o provaram tanto estas nações, como todas as comunidades de Portugueses, em todos os continentes.
Já era assim nos tempos da Monarquia de outrora, e assim, para além das diferenças partidárias, religiosas, ou até clubísticas, por bem de todos nós, deverá continuar a sê-lo com o Senhor Dom Duarte, porque restaurar a Monarquia é, acima de tudo, restaurar o diálogo e o respeito entre todos os Portugueses, restaurar o orgulho na nossa cultura e a vontade de independência e de soberania do Povo Português, porque só UM nos pode, verdadeiramente, unir como nação: S. A. R. Dom Duarte, o nosso REI!
Lisboa, em 2 de Julho de 2012, à passagem do 80º ano do falecimento de S. M. O Senhor Dom Manuel II, Rei de Portugal.
Paulo Machado de Jesus in Diário Digital (13-Jul-2012)