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BLOGUE REAL ASSOCIAÇÃO DE LISBOA

Alegria e compromisso

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O casamento da Senhora Dona Maria Francisca com Duarte de Sousa Araújo Martins coincidiu com a cerimónia de juramento de bandeira da herdeira do trono espanhol. Num mesmo dia, duas situações tão diferentes, para duas Princesas cujos destinos não se afiguram similares e para duas Casas Reais em circunstâncias tão distintas, poderiam parecer nada ter em comum. No entanto, essa dissemelhança é mais aparente do que real porque ambas foram marcadas pelas mesmas duas características: a alegria e o compromisso.

A alegria foi mais visível, espontânea e livre no caso da Senhora Infanta, mas esta também transpareceu no da Princesa das Astúrias, que, enquanto cadete da Academia Militar de Saragoça, beijou a bandeira e jurou fidelidade ao Rei.

O rito, de natureza profundamente pessoal, de unir uma vida a outra, solenemente e perante Deus, não descurou a sua inegável dimensão pública e política de que os nubentes nunca se alhearam.

A configuração, eminentemente contida e marcial, da cerimónia em que participou Dona Leonor, não escondeu que, ali, entre os demais cadetes, a futura Rainha de Espanha assumia, pessoalmente e de bom grado, a missão de servir o seu país ao lado dos seus camaradas de armas.

Se o casamento da Senhora Infanta concentrou nela e no seu Marido o foco das atenções, por mais que o juramento de Leonor pudesse ter sido diluído entre outros tantos não o foi e não o poderia ter sido. Foram ambas protagonistas de actos determinantes e definidores das suas vidas.

As respectivas famílias conferiram dignidade aos compromissos assumidos e incutiram em quem os testemunhou a certeza de que estes carregavam consigo o cunho da continuidade e da disponibilidade para o serviço aos seus povos, que independe das circunstâncias políticas episódicas de cada um dos países.

Se os espanhóis, mesmo os mais contrariados, puderam constatar a determinação e a disposição séria, mas jovial, da sua futura soberana, os portugueses, mesmo os mais distraídos ou os mais contaminados pelo jacobinismo que lhes é administrado há décadas, ficaram a saber que a Família Real está ao seu lado e que, mesmo nos momentos mais íntimos, esta não concebe a sua existência sem a partilhar com o povo português.

Nesse dia 7 de Outubro, alegria e compromisso andaram de mãos dadas, tanto em Mafra como em Saragoça, em franco contraste com o que se passava noutras partes martirizadas do mundo.

Até o jornalismo nacional tão céptico, quando não sarcástico e mesmo deselegante, para com a Família Real, não teve outro remédio senão reconhecer a sua existência e dar a notícia de que uma Infanta de Portugal se casava. Infelizmente, esta atenção foi esporádica, momentânea e, sobretudo, mundana, descurando os elementos mais profundos que marcaram aquela data feliz. Não se tratou de chapéus nem de vestidos, nem de precedências nem de títulos, mas da celebração do amor de duas pessoas que não apenas o partilharam com todo o país, como se disponibilizam a servi-lo.

Acredito que a Princesa das Astúrias tem boas razões para ver em Filipe VI um exemplo de dedicação e de compromisso, quotidiano e existencial, com Espanha e com a sua unidade, e não tenho qualquer dúvida de que a Senhora Dona Maria Francisca pode encontrar nos Senhores seus Pais a encarnação do que significa ser português e do que é ter Portugal como primeira prioridade. Em permanência, dia-a-dia, a cada batimento do coração.

A cadência serena, a elevação pessoal e cerimonial, a perenidade aberta à mudança e o horizonte de sonho que as monarquias acrescentam às democracias contemporâneas, demasiado imersas no tempo e nos debates políticos, cada vez mais fugazes, cada vez mais extremados, cada vez mais básicos, ficaram provados uma vez mais no dia 7 de Outubro.

José Manuel Durão Barroso aconselhou então os portugueses a reconhecerem a sua história e a reconhecerem e acarinharem a Família de Bragança. Ganharíamos todos se o seu conselho sensato fosse levado a sério. Apesar de todas as suas duplicidades e ambiguidades, Salazar afirmou, muito justamente, em Outubro de 1949, que

«Príncipes portugueses só deveriam crescer e ser educados em Portugal, embalados pelo nosso mar, acariciados pelo nosso sol, falando de criancinha a Língua, sentindo a lusitanidade da terra e da gente, vivendo o seu drama, acompanhando o seu trabalho, interpretando o seu sentir. Príncipes assim educados, ao contacto dos vivos e dos mortos da sua pátria — dos que a fizeram com heroísmo e a continuam com duro esforço —, são, seja qual for o seu destino, património moral da Nação, património que só povos muito ricos ou despreocupados costumam desperdiçar.»

Não obstante as tristes circunstâncias da nossa República que, 113 anos depois, não consegue encontrar uma narrativa que minimamente a justifique, nem ao episódio infame do regicídio, e que cada vez mais se afasta dos portugueses, Portugal tem na Família Real, despojada das funções oficiais e dos bens materiais que deveriam ser seus, mas detentora e intérprete plena dos valores imateriais que a sua condição e o seu exemplo lhe conferem, um património de uma riqueza sem paralelo. Que bom seria se o conhecêssemos e o valorizássemos como merece.

E a vós, Senhora, que posso eu desejar-vos senão a maior felicidade? Que a alegria e o compromisso de dia 7 de Outubro perdurem, se renovem e fortaleçam a cada dia da vida da família que constituístes e que me atrevo a também chamar nossa.

João Vacas, in Correio Real nº 28

A Real Associação de Lisboa é uma estrutura regional integrante da Causa Real, o movimento monárquico de âmbito nacional. Esta é uma associação que visa a divulgação, promoção e defesa da monarquia e da Instituição Real corporizada na Coroa Portuguesa, cujos direitos dinásticos estão na pessoa do Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança e em quem legitimamente lhe vier a suceder. Cabe a esta associação a prossecução de iniciativas e de projectos de interesse cultural, social, assistencial e de solidariedade que visem a dignificação, a valorização e o desenvolvimento dos seus associados e da comunidade em que se insere.

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