Uma curiosa afeição
Aos 99 anos, morreu, no passado dia 9 de Abril, no Castelo de Windsor, Filipe, Duque de Edimburgo. Nascido em 1921 na bela ilha grega de Corfu, Filipe da Grécia e da Dinamarca casou com Isabel II em 1947 e exerceu perseverantemente o seu papel como Príncipe Consorte do Reino Unido sempre um passo atrás da rainha, durante 69 anos.
Na coroação da Isabel II, ajoelhado aos seus pés, jurou, mãos nas mãos, ser seu liege man of life and limb que traduzido para português significa qualquer coisa como “seu vassalo, guardião da vida e da integridade física”, assumindo um papel como marido que é um exemplo de grande modernidade mesmo aos dias de hoje.
De facto, estar à frente do seu tempo a ditar tendências e influir na estética são predicados das coroas, jamais ir atrás de modas frívolas. Filipe Mountbatten (apelido que adoptou ao abdicar de títulos e apelidos seus para casar) foi um grande defensor dos animais e da conservação da natureza, muito antes destas causas terem sido apropriadas pelos partidos políticos, ou seja, quando não rendiam votos, tendo sido o primeiro presidente britânico do World Wildlife Fund. Desde cedo manifestou grande preocupação com a sustentabilidade do desenvolvimento, preocupação que se reflectiu na gestão que fez das propriedades da família.
Um dos seus maiores legados é, sem dúvida, o Duke of Edinburgh Award, representado em Portugal pelo Prémio Infante D. Henrique, presidido por SAR o Senhor Dom Duarte.
O Duque de Edimburgo serviu o seu povo aquém e além-mar: para além de ter participado activamente na Segunda Guerra Mundial, durante a sua vida fez 5493 discursos, foi presidente honorário de mais de 780 agremiações e participou em 22.219 eventos oficiais. Ao lado da sua Lilibeth marcou várias gerações e uma época.
A morte do Duque de Edimburgo provocou uma vaga de comoção a partir do Reino Unido e as suas ondas de choque sentiram-se no mundo inteiro. Em Portugal, os quatro canais televisivos de notícias transmitiram em directo as comoventes cerimónias fúnebres e o assunto foi tema de grande destaque nos principais jornais e revistas nacionais – e tocou o coração de muitos portugueses.
O apreço e o fascínio por figuras reais estrangeiras deveriam fazer-nos meditar. A sua perenidade promove o estreitamento de uma ligação profunda com os povos e as comunidades que servem, na defesa das causas mais improváveis e ignoradas que exigem, para que sejam consequentes, independência política, legitimidade histórica e constitucional.
Não deixa de ser curioso que tanta gente, que é indiferente ou mesmo hostil à nossa Causa, se deixe seduzir pelo encanto do Príncipe Filipe e de Isabel II sem daí tirar as clamorosas conclusões… Que tão grande fenómeno de serviço permanente e de solidez institucional só é possível com uma Chefia de Estado monárquica. É nesse sentido que urge restabelecer em Portugal a Coroa, instituição meta-política fundada na continuidade, que nos une à fundação da Pátria, nas pessoas da nossa querida Família Real. Não há motivo para que estejamos destinados à condição menor de nos deslumbrarmos com o que é estrangeiro e de ficarmos condenados às sumidades de turno que nos vão calhando em sorte.
João Távora
Editorial da revista Correio Real nº 23