Fazer das tripas coração
Não tenhamos dúvidas de que a melhor resposta à perturbadora conjuntura que vivemos é a da participação cívica. Assumindo-me como um democrata céptico à maneira do pensador e historiador Alexis de Tocqueville (1805 — 1859), cujo avô foi guilhotinado na torrente sanguinária da revolução francesa a que os seus pais escaparam por pouco graças à queda de Robespierre, estou convicto de que o melhor antídoto contra as demandas populistas e revolucionárias é uma sociedade civil organizada e comprometida com a coisa pública. Tal premissa torna-se mais urgente nesta época de atomização social e perda de influência das tradicionais estruturas agregadoras da “nação cultural” em face aos desafios da inevitável globalização e da revolução tecnológica que alterou definitivamente as tradicionais formas de comunicação de massas, em si também elementos agregadores em decadência acelerada. Enfrentamos de facto tempos perigosos, ou “interessantes” como lhe chamam os chineses, numa salutar perspectiva de que as crises podem ser vistas como oportunidades.
O problema é que a conjuntura só poderia ser transformada em oportunidade se as pessoas tomassem em mãos as causas em que acreditam e por elas se mobilizassem de forma organizada.
Acontece que é dessa mudança de atitude que também depende, a médio prazo, a Causa Real, estrutura nacional assente nas Reais Associações, que mostra preocupantes dificuldades de atrair massa crítica para se renovar e, desse modo, para cumprir com eficácia os seus desígnios. Não basta termos uma Família Real empenhada e exemplar nos valores que transmite, como temos. Não nos basta a generosidade e dedicação a uma vida de serviço de que é exemplo o Senhor Dom Duarte, e não chegam os inspiradores passos dados nesse sentido pelo Príncipe da Beira, cujas recentes aparições públicas nos autorizam a projectar esperança para os que vierem depois de nós. A verdade, a crua verdade, porém, é esta: para que este nosso sonho tenha futuro urge conseguirmos atrair gente para a participação e compromisso com as nossas estruturas. É urgente invertermos a tendência para a indiferença de quantos remetem as suas convicções monárquicas para um espaço privado, ou quanto muito, as assumem através de bem-intencionadas, posto que inócuas, tiradas nas redes sociais – que resultam perversamente numa perigosa ilusão de participação. O grande desafio para os anos que se aproximam é o mesmo que clama o nosso bem-amado Portugal e uma Europa fracturada: que todos quantos se sintam interpelados em assumir algum protagonismo no seu destino, jovens e menos jovens, assumam a sua (mesmo que pequena) parte de intervenção no curso da História. A continuidade do movimento monárquico em Portugal, tão necessário à afirmação de valores que dão sentido e espessura à nossa comunidade, depende tragicamente de uma nova atitude dos seus simpatizantes e da sua adesão concreta e comprometida. E não vale a pena procurar fora de cada um justificações e culpados que legitimem a inércia e o conformismo. A pergunta a que temos o dever moral de dar resposta é só esta: o que é que eu posso fazer mais por aquilo em acredito?
In Correio Real nº 18 - João Távora
Presidedente da Real Associação de Lisboa
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