À falta de outros desafios e por acumulação de desaires, penso que não é de menosprezar o peso da precipitação do retorno português de África por mais que estejamos habituados e que fosse expectável.
Estremunhados duma fugaz alucinação consumista e despertos para a cruel e ancestral pobreza a que estamos fadados, há algum tempo que os portugueses se vêm afundando numa crescente perda de auto-estima e descrença. Somos hoje uma triste tribo que se desagrega, subjugada por um discurso desmotivador, sem chama ou transcendência. Triste sina a deste povo sem causa ou bandeira.
Estive em Viseu, no sábado e no domingo, no Congresso da Causa Real. Confirmei as minhas crenças políticas na metapolítica do poder real e das Cortes, desde menino e moço, como aqui e em todo o lugar tenho proclamado e como aqui e em todo o lado sou conhecido. Ah! No Congresso prestei homenagem a Saramago e fui aplaudido por isso. Aqui vão notas que serviram de base à intervenção…
Claro que, como tradicionalista, sou contra os reaccionários e, como conservador, sou contra os revolucionários e os contra-revolucionários, seus irmãos-inimgos, os que querem uma revolução ao contrário, mesmo que seja o que dizem ser, ou ter sido, uma revolução nacional…
De mal com certa esquerda por ser monárquico e de mal com certa direita por ser liberal, sou, como sempre fui, por amor de el-rei e da pátria, disposto a restaurar a república, para, em cortes, poder reeleger um rei…
De mal com o situacionismo, por ser do contra, também sou contra as oposições que se iludem com a febre das revoluções, porque sou mesmo contra as revoluções que não sejam revoluções evitadas…
Aliás, sou tão tradicionalista que certos membros da ortodoxia ultramontana, a ala dos ditos catolaicos, me diabolizam como herético, panteísta e relativista.
Confesso ser um homem religioso (Régio dixit) e que não faço parte dos ateus estúpidos e das cliques libertinas (ainda sigo Anderson). Isto é, continuo tão tradicionalista que reinvindica uma tradição mais antiga do que a do ano um…a que não tem o privilégio de uma religião revelada pelos povos ditos do Livro.
Liberal à antiga, assumo o vintismo e o cartismo, desembarcaria no Mindelo, defenderia o setembrismo e entraria na patuleia como histórico, embora prefira o Pacto da Granja com os reformistas…
Continuo disposto a militar no partido do Passos, de Sá da Bandeira, de José Estêvão, de Anselmo e Luís Magalhães. Por outras palavras, mantenho orgulhosamente a fidelidade azul e branca, dos liberdadeiros e da liberdade que, sem ser por acaso, também foi a bandeira da Europa e do projecto de Quinto Império do Padre Vieira…
Menino e moço, me assumi como tal, seguindo o exemplo cívico de um Henrique Barrilaro Ruas, de um Rolão Preto, de um João Camossa, que me ensinaram a detestar o despotismo ministerialista da salazarquia. E com tais exemplos, continuámos contra outros despotismos, mesmo os iluminados pela desculpa da ideologia, sempre em nome de pretensos amanhãs que cantam.
Aliás, salazarquia sempre foi aquilo que um dia disse Almada: “foi substituído Portugal pelo nacionalismo que apenas foi uma maneira de acabar com os partidos…”
E com tipos como o Luís Almeida Braga fui bebendo aquela profunda tradição regeneradora que nos deu o consensualismo anti-absolutista, coisa que em inglês se diz pluralismo e guildismo e que é o cimento fundamental das revoluções evitadas daquela revolução atlântica que nos deu o presente demoliberalismo…
E comungando no estoicismo de Herculano, era capaz de voltar a subscrever o Manifesto de Dezembro de 1820, da autoria de D. Francisco, o futuro Cardeal Saraiva, seguidor de Cádiz e Martínez Marina, dessa bela aliança peninsular contra o usurpador, como praticámos na Restauração de 1808…
Procuro retomar as teses expressas no Código de Direito Público de António Ribeiro dos Santos, seguido por Palmela, por Silvestre Pinheiro Ferreira e pelas tentativas constitucionais históricas e cartistas do governo de D. João VI…
Assumo a herança de Francisco Velasco Gouveia e de João Pinto Ribeiro e detesto as tentativas absolutistas de Pascoal e de Penalva. Prefiro as chamadas Alegações de Direito de 1579, em favor Dona Catarina e, naturalmente, prefiro a síntese das Actas das Cortes de Lamego, positivadas pelas Cortes de 1641
Porque na base está a Constituição política das Cortes de Coimbra de 1385, expressas por João das Regras e desenvolvidas pelas teorias da Casa de Aviz, principalmente na Virtuosa Benfeitoria do Infante Dom Pedro, duque de Coimbra
Claro que me entusiasmam os exemplos cívicos de Sá da Bandeira contra os devoristas e os esclavagistas, ou Herculano, pela regeneração e pela descentralização, contra os cabrais. E iria para a Patuleia não deixando morrer em vão Luís da Silva Mousinho de Albuquerque…
Tal como resistiria por D. Manuel II, como Paiva Couceiro, o mesmo que foi um dos primeiros desterrados por Salazar, por denunciar a estúpida política do Acto Colonial, no que se irmanou com Norton de Matos…
Até estaria com Rolão Preto, Almeida Braga e Vieira de Almeida ao lado de Delgado, como estive com Barrilaro, Gonçalo, Camossa e Rolão Preto, em defesa da democracia de Abril…
Mas não esqueceria a armilar mesmo depois da descolonização, como tem feito o duque de Bragança, até por Timor, na senda das perspectivas de um Luís Filipe Reis Tomás…
A fé na bandeira azul e branca, sem recusa da que é hoje o símbolo nacional e daquela armilar que esteve na base simbólica do Reino Unido de 1816, nessa herança de D. João II, da esfera, da espera, da esperança, para que o abraço armilar possa semear futuro…
Daí não poder ser anti-republicano, porque sou, além de republicano, monárquico, querendo como o título de um livro dos finais do século XV, de Diogo Lopes Rebeleo: “De Republica Gubernanda per Regem”…
Importa restaurar a república para que se refaça a comunidade política, esse concelho em ponto grande, como disse o Infante Dom Pedro, onde o príncipe deve aliar-se à comunidade da sua terra, para que a política possa regenerar-se em coisa pública, com bem comum e saudades de futuro…
O caminho da restauração da república pode reforçar-se com a eleição do rei por consenso nacional, nomeadamente como bandeira contra a desertificação do país das realidades contra o país nominal (Herculano dixit), até para podermos voltar ao mar-oceano com os pés na terra, contra o centralismo capitaleiro de Pombal, Fontes, Afonso Costa, Salazar, Soares e Cavaco Silva…
Escapando ao massacre noticioso da morte de Saramago, que Deus o tenha, em boa hora me pus a caminho de Viseu para o Congresso da Causa Real, onde, durante o fim-de-semana, entre congressistas e observadores, se reuniram mais de duzentas pessoas oriundas de todo o país, um acontecimento que imprensa e restantes órgãos de comunicação social fizeram por ignorar olimpicamente. O facto é que, no coração de Portugal, na bela cidade de Viseu, durante dois dias se discutiu o futuro e o sonho duma regeneração de Portugal. Contrariando um país sem ideal ou utopia, encerrado nas suas funestas contas de mercearia e frívolas distracções fracturantes que o condenam à decadência e extinção.
Durante dois dias, no Teatro Viriato celebrou-se João das Regras, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Venceslau de Lima, Antero de Quental, Carlos Malheiro Dias, João Camossa, Ribeiro Teles, Henrique Barrilaro Ruas, Couto Viana e João Aguiar, Almeida Braga, Francisco Sousa Tavares, Sofia Mello Breyner, e tantos outros obreiros do ideal monárquico desta nação quase milenar. Apelou-se à abnegada militância dos monárquicos em vez de discussões pueris, à intervenção voluntariosa, rua a rua, porta a porta, num empenhamento esforçado para mater o sonho vivo do resgate de Portugal. Foram contundentes e emocionantes as palavras proferidas pelo homem livre que é José Adelino Maltez. Foram sábias as palavras de José Valle de Figueiredo sobre a monarquia e o municipalismo, o nosso ancestral contrapoder da tendência macrocéfala do Governo Central. E quão pertinente foi a explanação de Rui Monteiro sobre a esquerda monárquica contra o preconceito, a pior barreira à inteligência. No final ficaram a ecoar as tão serenas quanto convictas palavras de Paulo Teixeira Pinto, num desafio ao banqueiro republicano da comissão das festas para um debate franco e democrático sobre a nossa anquilosada república que a todos nos subjuga e empobrece há cem anos. A nós, monárquicos, desafiou-nos à resistência e à acção, como resposta e serviço a um povo sedento de verdade e esperança.
Triste é que, enquanto isto, o país mediático, acentua o seu trágico e crescente divórcio com a realidade. Nele se despendem energias e recursos financeiros em inúteis discussões, sobre assuntos fracturantes e... eleições presidenciais! Como se estivesse nessa estéril instituição a solução para a sinistra crise económica e de valores em que o país se afunda. Entre desistir e lutar, há que saber escolher.
Decorre este fim de Semana em Viseu o XVI Congresso da Causa Real. Após o período destinado à assembleia-geral no Sábado de manhã, realizam-se diversos debates abertos ao público. Serão abordadas várias vertentes da temática das monarquias modernas, nomeadamente «as vantagens da monarquia para a democracia no séc XVI» o relacionamento entre «monarquia e autarquias», e sobre a violência política no advento da República. Entre os oradores conta-se com a presença do autarca Fernando Seara e do politólogo José Adelino Maltês. Este importante acontecimento contará com a presença de Suas Altezas Reais os Duques de Bragança.
Desenganem-se aqueles que pensavam que os “vermelhos” venceriam a batalha iniciada nas ruas de Bangkok, na sequência da tentativa de golpe de Estado ocorrida na passada semana na capital da Tailândia.
Mais do que uma pretensa luta entre “ricos e pobres”, o golpe foi financiado por um conglomerado capitaneado pelo corrupto ex-primeiro ministro, o multimilionário Thaksin Shinawatra, na sequência da já anterior afirmação por parte daquele ex-dirigente de um poder pessoal sem fim mas que encontrava contudo ramificações nas elites empresariais provinciais, a par de uma aliança estratégica com o maoísta PC tailandês.
Com a ocupação da capital tailandesa visava-se fundamentalmente a queda do regime democrático e da secular monarquia, esmagadoramente apoiada pelo povo do Sião, favorecendo a conhecida estratégia expansionista da grande superpotência da região.
A verdade é que o golpe de Bangkok falhou e tal deveu-se à inteligência da reacção contida dos dirigentes tailandeses que apanhou desprevenidos os opositores que esperavam um banho de sangue para, dessa forma, justificarem a pretensa falta de democracia no País.
As baixas foram quase insignificantes e o regime sobreviveu, a exemplo dos séculos em que o Sião jamais aceitou ser colonizado. Desesperados e sem honra, os “camisas vermelhos” bateram em retirada mas, em desespero, semearam um rasto de destruição que levou a que Bangkok perdesse numa só noite os maiores centros comerciais da Ásia, equivalendo estes à superfície total do Colombo, das Amoreiras, do Vasco da Gama, do Allegro Tejo e do Continente, entre outros.
A par desta atitude mais típica de terroristas urbanos, arderam dezenas de edifícios públicos e privados e perderam-se mais de 8000 postos de trabalho... Segue-se agora a tarefa da reconstrução e da reabilitação da costumeira imagem pacífica do país. A monarquia, essa, mais do que nunca, continua a trilhar o seu caminho e a assegurar o bem-estar social do povo do Sião.
Durante o fim-de-semana Congresso da Causa Real estará patente no Teatro Viriato em Viseu uma importante exposição intitulada A Repressão da Imprensa na 1ª República, com a chancela da Plataforma do Centenário da República. Uma grande mostra feita à margem das comemorações oficiais dos cem anos da república portuguesa e também, o que é mais penoso, à margem da investigação oficial sobre os primórdios do regime republicano.
A mais de um ano das eleições presidenciais começou com Manuel Alegre e Fernando Nobre a dança das candidaturas. Ambas ditas independentes e supra-partidárias mesmo se, no caso do poeta, teve imediatamente o apoio do Bloco de Esquerda e mais tardiamente, a contra-gosto, o do Partido Socialista de que é militante e se Fernando Nobre confessa que seria uma honra ter como apoiante Mário Soares, ex - presidente e que não apoia Alegre, reunindo à sua volta um grupo de descontentes com a decisão dos órgãos oficiais do PS, que poderão vir a apoiá-lo.
Cavaco Silva, em funções na chefia do Estado, aguarda calmamente o desenrolar dos acontecimentos, nomeadamente a tentativa falhada, ao que parece, de à direita lhe arranjarem um opositor que se venha entrincheirar em Belém quando estiver em desacordo com leis da esquerda agora maioritária na Assembleia da República e dispare vetos sobre vetos, mesmo que não produzam qualquer mossa no alvo.
E falta ainda o PCP que terá também o seu candidato, por razões de princípio, mas que, numa 2ª volta, votará em Alegre para barrar o caminho a Cavaco. E à “reacção”.
Todos eles dirão ou já disseram que são independentes, não se sabe de quem ou do quê, e que querem unir os portugueses. E que querem vir a ser o “presidente de todos os portugueses”, numa farsa digna de Gil Vicente ou, mais modernamente, da revista à portuguesa.
Hoje é o candidato Fernando Nobre que dá uma entrevista ao Diário de Notícias e que esclarecendo que “Não sou monárquico, sou republicano. É uma inverdade, acho isso espantoso” diz , como não podia deixar de ser que “Estou nesta candidatura para unir todos os portugueses, o que passa por unir os republicanos, os monárquicos, os imigrantes naturalizados, todos”. E mais diz, depois de tentar não se situar politicamente à esquerda ou à direita, respondendo ao entrevistador que o coloca no centro- esquerda, que possivelmente é um homem dessa área política. E mais diz ainda, o que obviamente agrada à direita, que é um patriota e não tem vergonha de o dizer. Tal como Manuel Alegre já o disse em eleições anteriores, no que é a manifestação de uma posição tradicional da maioria dos republicanos que fizeram o 5 de Outubro (passe os iberistas que por lá andaram também) e lhe terá valido os votos de alguns monárquicos desprevenidos e equivocados, em contra-ponto aos esquerdismos reaccionários pós 25 de Abril, aos neo-iberistas e aos federalistas europeus.
Tenho pelo Dr. Manuel Alegre apreço, como poeta e cidadão, como tenho pelo Prof. Cavaco Silva, como economista e pessoa de bem, como tenho pelo Dr. Fernando Nobre o maior apreço como servidor incansável das causas sociais e das causas humanitárias. Não é isso que está em causa. Como não está em causa escolher ou ajudar a escolher o mal menor destas candidaturas que se nos apresentam. Nem alimentar o mito de um candidato monárquico à presidência da República que, por artes de berliques e berloques, viesse a convocar um referendo para escolher o regime (mesmo se as normas constitucionais o não permitem) ou a, num golpe de Estado, restaurar a Monarquia. O que, além do mais, revelaria uma pessoa desonesta. O Dr. Fernando Nobre desfez esse mito e ainda bem. É tão republicano como os outros, pretende eternizar esta república centenária e decadente como os outros. Merece a minha indiferença como os outros. Eu quero um Rei, verdadeiramente independente e supra-partidário e não um sábio ou um intelectual ou um tecnocrata ou um santo, mesmo se laico, na chefia do Estado. “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
Hoje de manhã o Nuno Pombo e eu deslocámo-nos ao Infantado em Loures à Escola EB 2-3 João Villaret sob um simpático convite da direcção para, no âmbito das Comemorações do Centenário da República, debatermos com os alunos a monarquia e a república. O debate foi dividido em dois grupos: um, renuindo os alunos e professores do terceiro ciclo, decorreu na biblioteca da escola e contou com Germano Marques da Silva advogando a república e com o Nuno Pombo defendendo a causa monárquica. No auditório teve lugar o outro debate com os cerca de sessenta alunos do 2º ciclo, que não puderam contar com a presença do lado “republicano”, na pessoa do presidente da junta de freguesia de Loures, que se viu impedido de comparecer por um imprevisto de última hora. Ficando o contraditório ao meu discurso a cargo da professora de história que se confessou republicana pouco convicta, o diálogo estabeleceu-se principalmente com as crianças que me conseguiram surpreender, com irreverentes e inteligentes perguntas, por exemplo, sobre a monarquia constitucional, o regicídio ou o porquê das monarquias europeias se terem desenvolvido mais do que as repúblicas em geral e a nossa em particular.
No final da sessão, que apesar da idade dos participantes decorreu surpreendentemente viva e interessada, fiz distribuir documentos antigos, jornais, cartas e fotografias sobre a 1ª república: fotografias de assaltos a jornais, cartas e fotos de presos políticos, caricaturas dos caciques e dos tiranos, material de história viva que obteve grande sucesso. Mas aquilo que maior êxito obteve, com um bruáa de espanto e entusiasmo, foi uma grande bandeira monárquica que desfraldei, na qual os miúdos puderam tocar e mexer com inusitada excitação.
No final, todos reconhecemos que independentemente da forma de Chefia de Estado, o importante é a democracia, que nos permitia estar ali todos a conversar em liberdade. Uma valorosa conquista com génese nas constituições monárquicas, resgatada e desenvolvida a partir de Abril de 1974. Não em Outubro de 1910.
A Real Associação de Lisboa é uma estrutura regional integrante da Causa Real, o movimento monárquico de âmbito nacional. Esta é uma associação que visa a divulgação, promoção e defesa da monarquia e da Instituição Real corporizada na Coroa Portuguesa, cujos direitos dinásticos estão na pessoa do Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança e em quem legitimamente lhe vier a suceder. Cabe a esta associação a prossecução de iniciativas e de projectos de interesse cultural, social, assistencial e de solidariedade que visem a dignificação, a valorização e o desenvolvimento dos seus associados e da comunidade em que se insere.