A conquista da Liberdade como paradigma de progresso
Sabemos como a Liberdade, o valor mais caro à humanidade, é um bem precário, quando não uma vã miragem. Os filósofos, escritores e cientistas há muito que sentenciaram um prognóstico: a contingência Humana é desde logo uma incontornável limitação aos seus profundos ensejos de realização, cabendo ao domínio do espírito a resolução desse problema.
Mas se este tema em sentido filosófico é uma questão complexa e subjectiva, a abordagem que hoje aqui faço é duma perspectiva bem mais prosaica e vital: refiro-me àquilo que uma sociedade evoluída pode e deve fazer pela promoção dos requisitos mais primários da Liberdade.
Um Estado paternalista que proporciona uma educação deplorável e um ensino inadequado, um país que exibe dramáticos níveis de iliteracia e ausência de pensamento lógico, está longe de promover a autonomia aos seus cidadãos. Não há verdadeira liberdade sem exigentes critérios de escolha. Mas o mais trágico é quando a jusante, essa pretensa liberdade é definitivamente comprometida pela pobreza e pela miséria dos milhões de portugueses que vivem entre o desemprego e o trabalho indiferenciado. Só se estivermos muito distraídos é que não reparamos que há muitas pessoas que ao fim-de-semana têm que optar entre um café e um maço de tabaco e os bilhetes de transporte para um passeio em família. Demasiados portugueses não têm possibilidade nem apetência para comprar um livro, muito menos têm orçamento para consertar o Magalhães avariado do seu filho. Só se estivermos distraídos é que não reparamos naqueles que vivem a humilhação de terem de passar ao largo da farmácia ou a mercearia do bairro onde devem uma conta calada. Enfim, é preciso vivermos numa redoma para não nos cruzarmos com pessoas que passam o vexame da impotência em prover a sua família de condições de subsistência razoáveis.
Para lá dalguns privilegiados funcionários do Estado, em Portugal impera meio país acossado pelo medo que a crise lhe bata à porta, e outra metade que não tem condições económicas dignas. Ou seja, que não é verdadeiramente livre.
De resto a realidade portuguesa é no mínimo esquizofrénica: esta opressão convive paredes meias com sofisticadas infra-estruturas de alcatrão e betão, e sob a promessa de um moderno aeroporto e linhas de alta velocidade que poucos portugueses terão possibilidades de algum dia usufruir. E não me venham com acusações de catastrofista ou de profeta apocalíptico: com o vicioso modelo de desenvolvimento escolhido, assistencialista, igualitário e desresponsabilizador, não se vislumbra solução: nos dias que passam a luta dos portugueses é pela sobrevivência individual e como povo, quando deveria ser pela conquista da sua Liberdade.