As danças da República
"SOLOS COM CONVICÇÃO". É este o título da iniciativa que, através da dança, pretende homenagear "6 mulheres da república". Dança para coretos e jardins. Imaginamos o denodo e o afinco com com que as homenageadas dispuseram das suas energias para que a república e as suas amplas liberdades fossem alcançadas. Imaginamos logo a emancipação política de que o belo sexo beneficiaria assim que a generosidade republicana ganhasse forma de lei. Imaginamos que um dos primeiros actos da nova ordem fosse libertar a condição feminina dos grilhões da coroa e das velhas trevas. Imaginamos as danças, não apenas nos coretos e nos jardins, interpretadas pelas agradecidas beneficiárias dessa alforria republicana. Das celebradas mulheres não consta o nome da Dra. Carolina Ângelo, médica, viúva e chefe de família que escandalizou o novo poder instituído por se ter dirigido às urnas para votar nas primeiras eleições republicanas, em 1911. Os generosos democráticos não descansaram enquanto não aprovaram a lei eleitoral (1913) que, pela primeira vez, impõe o género masculino do cidadão eleitor. Só podiam votar os homens. E apenas os que soubessem ler e escrever português. Foi estranhamente o despótico Estado Novo que atribui o sufrágio às mulheres e que fez eleger senhoras para os órgãos legislativos. Dancemos, pois. Com convicção.
Nuno Pombo
no blogue 31 da Armada
http://31daarmada.blogs.sapo.pt/